Repressão e sumiço: O que aconteceu com Mondlane?
Venâncio Mondlane desaparecido após tumulto em passeata em Maputo
A equipa do ex-candidato presidencial moçambicano, Venâncio Mondlane, comunicou através das redes sociais que seu paradeiro e estado de saúde são desconhecidos após um tumulto ocorrido durante uma passeata em Maputo.
De acordo com a nota divulgada, agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia interceptaram a caravana do político, efetuando disparos com balas reais e lançando gás lacrimogéneo, levando à dispersão dos manifestantes.
Feridos e tensão nas ruas
Segundo a Plataforma Decide, pelo menos 16 pessoas foram baleadas, incluindo duas crianças e um membro da caravana de Mondlane. O incidente aconteceu no bairro de Hulene, ao longo da Avenida Julius Nyerere, enquanto o grupo se dirigia à Praça dos Combatentes, partindo da Praça da Juventude, em Magoanine.
Após os disparos, bairros periféricos de Maputo foram tomados pelo caos, com bloqueios de vias e relatos de cidadãos impedidos de chegar às suas casas. Em alguns pontos, manifestantes exigiam dinheiro para liberar veículos e até subiam nos tetos de carros parados.
Críticas à ação policial
Especialistas e ativistas criticaram a postura da polícia. Para Wilker Dias, diretor da Plataforma Decide, a repressão foi desnecessária.
"A ação da polícia foi desproporcional, pois os manifestantes não representavam ameaça."
O analista Xavier Nhanale também condenou a intervenção policial, afirmando que demonstra um Estado controlado por interesses políticos.
"Este episódio prova que a democracia em Moçambique é apenas teórica."
Acordo político assinado no mesmo dia
Coincidentemente, enquanto esses acontecimentos se desenrolavam, o Presidente da República, Daniel Chapo, assinava um acordo político com os cinco principais partidos do país: FRELIMO, RENAMO, PODEMOS, MDM e Nova Democracia.
O pacto tem como objetivo promover reformas no Estado, especialmente no pacote eleitoral, e reforçar a reconciliação nacional.
No entanto, Wilker Dias aponta lacunas no compromisso, defendendo que Mondlane deveria ser incluído no diálogo e que o Estado deveria indenizar vítimas de manifestações. Já Xavier Nhanale se mantém cético sobre a eficácia do acordo, relembrando que acordos anteriores foram violados, mesmo aqueles firmados com Afonso Dhlakama em vida.
