Pós-eleições: polícia caça e prende suspeitos de protestos em Nampula
Polícia intensifica operações em Nampula e prende manifestantes pós-eleitorais
A cidade e província de Nampula vivem um clima de apreensão, especialmente entre aqueles que participaram das manifestações contra os resultados das eleições de 9 de outubro de 2024. Apesar da aparente calma, relatos indicam que as forças de segurança estão conduzindo detenções direcionadas a indivíduos identificados como envolvidos nos protestos.
Durante as manifestações, houve episódios de violência, incluindo mortes por baleamento, destruição de propriedades e ataques a agentes da lei. No entanto, a repressão policial só se intensificou recentemente, com prisões ocorrendo em diversas zonas, como Campo dos Macondes e Clube 5, onde pelo menos cinco jovens, principalmente moto-taxistas, foram detidos sob acusações de vandalismo.
Moradores relatam que os detidos foram acusados de envolvimento no ataque à residência de um policial em janeiro. Segundo fontes locais, alguns conseguiram ser libertados após o pagamento de valores que teriam sido inicialmente fixados em 150 mil meticais, mas posteriormente reduzidos para 80 mil meticais.
Sheik detido ao sair da mesquita
Em Natikiri, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) prendeu dois supostos líderes das manifestações, acusados de tentar incendiar uma locomotiva dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Entre os detidos está um líder religioso, que relatou ter sido levado sem um mandado judicial e submetido a maus-tratos enquanto estava sob custódia.
A família do sheik afirma que ele foi capturado logo após uma oração na mesquita, por homens armados que dispararam tiros para intimidar os presentes. A filha do religioso sugere que sua prisão pode estar relacionada à sua ligação com o partido de Venâncio Mondlane, afirmando que outros membros da organização também estariam sendo perseguidos.
Outro suspeito detido em Natikiri descreveu uma abordagem semelhante, alegando que foi levado sem explicações e algemado antes de ser conduzido ao SERNIC.
Professor preso por suposta liderança de manifestações
No distrito de Muecate, um professor e secretário da Organização Nacional de Professores (ONP) foi preso sob suspeita de incitar atos de vandalismo durante os protestos pós-eleitorais.
A polícia alega que o docente organizou grupos de jovens para atos de violência e destruição. O professor, no entanto, nega qualquer envolvimento, afirmando que sua prisão pode estar relacionada a uma disputa financeira com um agente da polícia comunitária.
A porta-voz do SERNIC, Enina Tsinine, declarou que as investigações continuam e que mais detenções podem ocorrer. "Há provas concretas que levaram à prisão desses indivíduos", afirmou, sem dar mais detalhes por tratar-se de um "segredo de justiça".
A crescente repressão policial tem gerado preocupações sobre possíveis novas manifestações e sobre o impacto dessas ações na estabilidade política e social em Nampula.
