Desde 1994, Toda Eleição Resulta em Desestabilização", Afirma Daniel Chapo

O presidente moçambicano, Daniel Chapo, fez uma declaração preocupante em um discurso durante sua visita a Cabo Delgado, na quarta-feira, 26 de fevereiro.

Desde 1994, Toda Eleição Resulta em Desestabilização", Afirma Daniel Chapo

No evento, realizado no Teatro Operacional Especial, em Afungi, o chefe de Estado afirmou que desde 1994, sempre que as eleições terminam, ocorrem episódios de desestabilização no país, com mortes de civis, vandalismo, saques e destruição de propriedades públicas e privadas.

Chapo fez a afirmação enquanto se dirigia às Forças de Defesa e Segurança (FDS), mobilizadas para proteger projetos de gás em Cabo Delgado e combater protestos violentos. Durante o discurso, ele descreveu as quatro principais ameaças à segurança nacional, destacando o terrorismo em Cabo Delgado como uma das mais graves. Ele também fez uma comparação entre os protestos de massa e os ataques terroristas, sugerindo que os protestos deveriam ser combatidos com a mesma intensidade que as ações terroristas.

No entanto, essa comparação e a afirmação de que a desestabilização sempre ocorre após as eleições desde 1994 geraram controvérsias. Historicamente, as eleições de 1994, as primeiras multipartidárias, ocorreram sem grandes distúrbios ou mortes, com a missão das Nações Unidas em Moçambique descrevendo o pleito como "o melhor já realizado na África". Embora Afonso Dhlakama, líder da Renamo, tenha contestado os resultados, o partido aceitou os assentos parlamentares sem retornar à guerra.

O verdadeiro ponto de conflito pós-eleitoral ocorreu após as eleições de 1999, quando a Renamo realizou protestos contra os resultados, resultando em confrontos com a polícia. Em 2000, um incidente trágico em Montepuez levou à morte de vários membros da Renamo, que estavam detidos após manifestações violentas. Após as eleições de 2009, os ataques armados pela Renamo se intensificaram, com Dhlakama se refugiando nas montanhas e lançando ataques militares.

A partir de 2014, com a assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades, a violência pós-eleitoral foi parcialmente controlada, embora continuasse em menor escala nas eleições de 2019, devido à oposição de Mariano Nhongo, líder dissidente da Renamo. Protestos eleitorais em 2023 e 2024 intensificaram as tensões, principalmente após a vitória de Chapo nas eleições presidenciais.

Portanto, a declaração de Chapo de que "desde 1994, sempre que as eleições terminam, há desestabilização" não é precisa. A desestabilização significativa ocorreu em algumas eleições, mas não de forma sistemática e generalizada, como sugerido pelo presidente. A memória histórica das eleições de 1994 e 2004, que não resultaram em grandes distúrbios, refuta a ideia de que a desestabilização pós-eleitoral seja uma constante no país.
Next Post Previous Post
No Comment
Add Comment
comment url
sr7themes.eu.org