Cabo Delgado: Ataques e Desaparecimentos Geram Preocupação
Os especialistas alertam que os grupos armados aproveitaram o período eleitoral e pós-eleitoral para se reorganizarem e retomarem as operações em áreas onde foram reforçadas como as Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Os especialistas alertam que os grupos armados aproveitaram o período eleitoral e pós-eleitoral para se reorganizarem e retomarem as operações em áreas onde foram reforçadas como as Forças de Defesa e Segurança (FDS). Durante um painel promovido pelo Observatório do Meio Rural (OMR) na última terça-feira (02/04), o pesquisador Tomás Queface, da plataforma Cabo Ligado, destacou que os insurgentes evitaram interferir diretamente no processo eleitoral, mas sofreram uma instabilidade política para se reestruturar.
De acordo com Queface, desde outubro os ataques são concentrados ao longo da Estrada Nacional 380, onde os insurgentes realizam saques nas aldeias de Mudumbe, Meluco e Macomia para reabastecimento. “As ações permaneceram no eixo Macomia, Mocímboa da Praia e Meluco, o que pode indicar a tentativa de estabelecer novas bases nesses distritos, já que foram praticamente desalojados da costa de Macomia”, explicou o pesquisador do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
Aumento da Repressão e Desaparecimentos
Além da violência armada, a tensão política pós-eleitoral tem sido marcada pela repressão às manifestações e perseguição de opositores. Protestos contra os resultados eleitorais oficiais foram duramente reprimidos pelas forças de segurança, resultando em feridos e mortos.
O jornalista Armando Nhantumbo denunciou que apoiadores do candidato Venâncio Mondlane, do partido PODEMOS, seriam perseguidos por supostos "esquadrões da morte". Entre os desaparecidos, destaca-se o jornalista Arlindo Chissale, conhecido pelo seu apoio a Mondlane, que não é visto há quase um mês.
O pesquisador João Feijó, do Observatório do Meio Rural, classificou a situação como uma grave violação dos direitos humanos. “Centenas de pessoas foram assassinadas por razões políticas, algo que não é apenas chocante do ponto de vista humanitário, mas também contradiz princípios democráticos básicos. Além disso, essa repressão só alimenta o ressentimento da população contra o Estado”, alertou.
Hizidine Achá, do canal STV, reforçou que a perseguição e os desaparecimentos estão gerando um profundo mal-estar nas famílias, algumas das quais veem seus entes queridos sendo detidos sem provas concretas de envolvimento com grupos armados. “Se o governo quer estabilidade, precisa entender que a população é sua melhor aliada. Essas ações só ampliam a revolta e a desconfiança”, concluiu.
