Três mortos em confrontos com a polícia no dia do retorno de Mondlane
Na manhã desta quinta-feira, sob uma forte chuva em Maputo, Moçambique vivenciou novos episódios de tumulto e violência com o retorno de Venâncio Mondlane ao país.
O incidente resultou na morte de três pessoas após confrontos entre a polícia e simpatizantes do político. Após mais de dois meses fora, Mondlane declarou à imprensa que sua volta foi motivada pelo compromisso com o diálogo, a denúncia de abusos e a busca por justiça.
"Se querem dialogar ou negociar, aqui estou. Não posso ficar longe enquanto pessoas estão sendo assassinadas e sequestradas", afirmou. Ele também anunciou visitas a locais marcados por violência pós-eleitoral e disse estar disposto a enfrentar a justiça para expor os verdadeiros culpados.
Durante um juramento simbólico, Mondlane prometeu trabalhar para transformar Moçambique: "Juro pela minha honra servir à pátria, respeitar a Constituição e dedicar todas as minhas energias ao benefício desta nação."
A chegada do político ao Aeroporto Internacional de Maputo atraiu uma multidão, mesmo sob chuva. No entanto, o evento terminou de forma trágica quando a polícia abriu fogo e dispersou os presentes com gás lacrimogêneo, provocando mortes e pânico.
Cerca das 10h, no Mercado Estrela, Mondlane reiterou seu compromisso com a verdade eleitoral, declarando-se vencedor das eleições de 9 de outubro. Falando de cima de um carro de som, ele encenou uma "tomada de posse" simbólica. Minutos depois, a polícia interrompeu a manifestação com disparos, levando à fuga em massa.
Nélson Fumo, um dos presentes, relatou: "Chegaram atirando, mataram três pessoas. A bala está aqui." Outro apoiador, Nélson Abrenjare, expressou indignação: "Se necessário, que nos matem, mas a liberdade deve ser restaurada."
A polícia seguiu reprimindo o ato, enquanto disparos e gás lacrimogêneo continuavam. Este foi o segundo confronto envolvendo Mondlane desde o início das tensões pós-eleitorais.
Na chegada a Maputo, Mondlane rejeitou interesse em cargos e benefícios, afirmando que sua missão é "fazer história". Ele negou acordos políticos para seu retorno e acusou o governo de promover um "genocídio silencioso" contra a oposição.
Mondlane chamou sua nova fase de luta pós-eleitoral de "Ponta de Lança" e desafiou as autoridades: "Podem me prender ou matar. A revolta que se seguirá será imensa e inevitável."
Desde 21 de outubro, confrontos já deixaram quase 300 mortos e mais de 500 feridos, segundo organizações civis. Mondlane enfatizou que não saiu do país por medo e pediu à população que o recebesse no aeroporto de Mavalane.
O Conselho Constitucional marcou a posse do próximo presidente para 15 de janeiro. Em dezembro, o órgão proclamou Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, como vencedor com 65,17% dos votos. O anúncio gerou mais protestos e destruição, mas, sem novas mobilizações, a situação estabilizou nos últimos dias.
Embora o Tribunal Supremo afirme não haver mandado de prisão contra Mondlane, ele enfrenta processos no Ministério Público, acusado de incentivar manifestações que causaram prejuízos superiores a dois milhões de euros na província de Maputo.
