Naparamas: O grupo que gera medo em distritos no norte de Moçambique

Nampula — Um grupo denominado Naparamas tem causado temor em várias regiões do norte de Moçambique, especialmente em distritos como Angoche e Erati.

Naparamas: O grupo que gera medo em distritos no norte de Moçambique

Os membros deste grupo, armados com instrumentos contundentes, têm incendiado e destruído infraestruturas públicas, além de ter sido responsável pela morte de pessoas, incluindo agentes da polícia, após confrontos com as autoridades.

Após o ataque mais recente em dezembro de 2024, no distrito de Erati, o local passou a ser monitorado por forças combinadas de militares e policiais, embora muitas instituições públicas ainda não funcionem plenamente devido aos danos causados. Entre os alvos dos ataques estão viaturas do Estado, postos de transformação de energia elétrica e sedes administrativas.

Alguns moradores de Angoche e Erati acreditam que o ressurgimento do grupo está ligado às manifestações pós-eleitorais, já que os ataques começaram na mesma época dos protestos. Juma, um residente de Erati, relatou à Voz da América que o grupo retornou ao distrito na semana passada, estabelecendo-se no posto administrativo de Namiroa até a chegada dos militares. Durante o confronto, vários membros dos Naparamas morreram, enquanto outros ficaram feridos ou fugiram.

Em Angoche, no posto administrativo de Ayube, seis membros dos Naparamas foram mortos pela polícia enquanto tentavam invadir instituições públicas com catanas e outros instrumentos. Luís Cassimo, um líder comunitário local, relatou à Voz da América que o grupo se identificou como apoiador do partido Podemos e tem tentado instalar novas autoridades nas regiões por onde passa, o que tem gerado grande apreensão entre os moradores.

A polícia de Nampula, representada pelo diretor das Relações Públicas, Dércio Samuel, afirmou estar investigando a origem e as motivações dos Naparamas. De acordo com Samuel, a polícia busca entender quem são os membros do grupo e quais os objetivos das incursões, pois os Naparamas têm desafiado as autoridades, como evidenciado em Ayube, onde tentaram atacar um policial com uma catana.

Na quarta-feira, 12 de fevereiro, o governador de Nampula, Eduardo Abdula, visitou o distrito de Erati e qualificou os ataques como "atos de terror e vandalismo extremo", independentemente das motivações. Ele destacou que o governo se compromete a reconstruir as infraestruturas destruídas e pediu à população vigilância diante de situações semelhantes. Abdula também lembrou que a província já enfrentava desafios devido aos ciclones, que também destruíram infraestruturas.

Quem são os Naparamas?

Os Naparamas são um grupo de guerrilheiros moçambicanos que surgiram nos anos 1980, durante a guerra civil. Eles seguem uma crença tradicional que afirma que, após um tratamento específico, os membros ficam protegidos de balas. Segundo Teodoro Amade, um Naparamas da aldeia de Muanza, em Cabo Delgado, o grupo ressurgiu há três anos para auxiliar as forças governamentais no combate ao terrorismo, principalmente no contexto do conflito com o grupo Al-Shabaab.

Amade explicou que o grupo realiza vigilância e patrulhamento nas matas para enfrentar o terrorismo, com a alegação de que, devido ao tratamento tradicional, os Naparamas são imunes a tiros. No entanto, ele admitiu que, em algumas situações, membros do grupo podem ser feridos ou mortos devido ao descumprimento de algumas orientações dos curandeiros responsáveis pelo tratamento.

Evaristo Muhano, presidente regional da Associação de Médicos Tradicionais de Moçambique, criticou a abordagem das autoridades, afirmando que matar os Naparamas prejudica a identificação dos curandeiros responsáveis pelos rituais. Muhano sugeriu que, ao invés de matar, as autoridades deveriam capturar os membros do grupo e permitir que os curandeiros os identificassem.

Em um confronto recente em Angoche, a polícia de Nampula matou seis membros do grupo, intensificando a tensão na região.
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