Estado Islâmico Reivindica Série de Ataques em Cabo Delgado

Insurgentes intensificaram ofensivas em quatro distritos em apenas uma semana
Mais de 10 mortos enquanto o governo mantém silêncio

Estado Islâmico Reivindica Série de Ataques em Cabo Delgado

Maputo – Em apenas sete dias, a província de Cabo Delgado foi palco de múltiplos ataques insurgentes, com o Estado Islâmico reivindicando a autoria e alegando a morte de mais de 10 pessoas.

O incidente mais recente ocorreu na noite de segunda-feira (3 de fevereiro) na vila de Nicocue, localizada a cerca de 40 quilómetros ao norte de Montepuez. Segundo relatos de moradores, o ataque descobriu a destruição de várias casas, embora inicialmente não houvesse registro de vítimas. No entanto, na terça-feira à noite, o Estado Islâmico divulgou imagens do ataque nos seus canais de propaganda, alegando ter residências incendiadas e um veículo, além de assassinar um civil identificado como cristão.

No dia 2 de fevereiro, outro ataque ocorreu na vila de Mitope, no distrito de Mocímboa da Praia. O grupo terrorista afirmou ter atacado uma base militar, forçando os soldados a fugir e permitindo a captura de armamento e munições. Além disso, acampamentos militares e cerca de 20 residências foram incendiados.

Uma onda de violência teve início na noite de 26 de janeiro, com um ataque no posto administrativo de Pundanhar, aproximadamente 50 quilômetros a noroeste de Palma. De acordo com fontes locais, os insurgentes invadiram a região, matando um policial e um civil, incendiando casas e saqueando suprimentos. A autoria do ataque foi reivindicada pelo Estado Islâmico dias depois, através de seus canais de comunicação.

O episódio mais letal foi registado em 29 de janeiro na vila de Ravia, distrito de Meluco, onde um grupo de insurgentes arrancou uma mina de ouro artesanal. Os relatórios locais apontam para a morte de oito pessoas, embora o Estado Islâmico tenha divulgado, na edição seguinte da sua revista Al-Naba, que cinco cristãos foram executados, acompanhando a publicação com imagens das vítimas.

Os ataques concentraram-se em quatro distritos distintos – Palma (Pundanhar), Mocímboa da Praia (Mitope), Meluco (Ravia) e Montepuez (Nicocue) – investigando uma estratégia estratégica entre diferentes células insurgentes atuantes na província.

Nos últimos meses, análises indicavam que os insurgentes haviam recuado para áreas de mata densa próximas ao Rio Messalo, enquanto forças ruandesas, que substituíram a missão da SADC em Macomia, mantinham pressão sobre os grupos terroristas.

O ex-presidente Filipe Nyusi, durante os seus discursos de demissão, reiterou que os grupos insurgentes foram derrotados. No entanto, a recente escalada de ataques contradiz essas declarações, evidenciando a continuidade das operações terroristas.

Historicamente, a atividade insurgente tende a diminuir entre novembro e fevereiro, período de chuvas intensas que dificultam deslocamentos devido a rios transbordando e estradas lamacentas. No entanto, os ataques costumam se intensificar a partir de março, como ocorreram em grandes manifestações anteriores contra distritos estratégicos como Mocímboa da Praia (2020), Quissanga (2020), Macomia (2020 e 2024) e Palma (2021).

Especialistas em segurança acreditam que, durante a estação chuvosa, os insurgentes aproveitaram a menor incidência governamental para reorganizar forças, treinar recrutas e infiltrar informantes nas comunidades.

Diferentemente dos anos anteriores, uma ofensiva recente teve início antes do período pós-chuva, conhecida entre analistas como “época de combates”. Uma fonte anônima do setor de segurança sugeriu que esse aumento de ataques pode ser uma resposta direta às declarações de Nyusi sobre a suposta derrota dos terroristas.

Segundo essa fonte, a propaganda desempenha um papel central para os insurgentes, e qualquer discurso governamental que sugira o enfraquecimento do grupo tende a ser respondido com ações violentas, projetado para reafirmar sua presença e garantir suporte logístico e financeiro de apoiadores externos.

Desde que assumiu a carga, o novo presidente e comandante-em-chefe, Daniel Chapo, ainda não abordou o problema da insurgência de maneira detalhada. Nos seus recentes discursos, durante as celebrações do Dia dos Heróis e a abertura do ano judicial, fizeram apenas breves menções ao conflito em Cabo Delgado.
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